O uso da eletrofisiologia ocular na detecção de doenças oftalmológicas oferece precisão e diagnóstico precoce

Muito utilizadas no diagnóstico de distúrbios do sistema visual, mais especificamente em casos em que há necessidade de informação bem detalhada, as técnicas eletrofisiológicas auxiliam na detecção precoce e na avaliação de várias doenças oculares. Técnicas objetivas (que independem da informação do paciente), não invasivas, que precedem as alterações visíveis ao exame de fundo de olho, fazem da eletrofisiologia um exame muito funcional.

A eletrofisiologia visual é a área do conhecimento devotada ao registro de minúsculos sinais elétricos gerados pela complexa rede de processos fisiológicos que resultam na percepção de um objeto. A luz que cai na retina é convertida em pequenos sinais elétricos que, somados, sofrem interações e depois são conduzidos para o córtex visual, a área do cérebro que processa a visão.

Estudo da visão
Durante os exames de eletrofisiologia ocular no diagnóstico oftalmológico, eletrodos específicos são colocados em locais apropriados ao longo da via visual para medir as respostas provocadas pela luz quando esta estimula o olho. Compostos por três testes principais, os exames eletrofisiológicos também são muito úteis no diagnóstico de baixa de visão.

ERG – eletrorretinograma
O ERG auxilia no diagnóstico de distrofias retinianas como retinose pigmentária, distrofia de cones, distrofia de cones-bastonetes, doença de Stargardt, amaurose congênita de Leber, entre outras. Nesse teste, por exemplo, os eletrodos mais recomendados são em forma de lente de contato posicionados sobre a córnea com colírio anestésico após dilatação das pupilas. O exame só é realizado após um período de adaptação ao escuro por 30 minutos para avaliar células sensíveis à visão noturna. 

EOG – eletroculograma
No teste do EOG os eletrodos são posicionados na pele ao redor dos olhos, e dependendo do equipamento utilizado não há necessidade de dilatação pupilar. Muito útil para avaliação de toxicidade ocular por cloroquina, quinino, metanol, entre outros, o EOG também pode estar alterado em várias doenças de retina, mas sua principal contribuição é no diagnóstico da doença de Best.

PVE – potencial visual evocado
O PVE auxilia no diagnóstico e na avaliação clínica de lesões desmielinizantes do nervo óptico, lesões compressivas das vias visuais anteriores, lesões tóxicas, lesões isquêmicas e atrofia óptica. Durante o exame, os eletrodos são colocados na pele em pontos específicos da cabeça do paciente.

Para o registro adequado das informações devem ser seguidos os protocolos de exame da International Society for Clinical Electrophysiology of Vision (ISCEV), que foram desenvolvidos para padronizar os testes eletrofisiológicos em todos os serviços disponíveis no mundo. Os sinais captados pelos eletrodos são amplificados, armazenados e mostrados em sistemas com software e hardware para esse fim. O profissional que realiza o exame deve ser capacitado na captação, no registro e na análise das respostas eletrofisiológicas visuais.

Em prol da oftalmologia
Os testes eletrofisiológicos visuais têm proporcionado aos oftalmologistas uma compreensão mais detalhada dos processos fisiológicos do sistema visual tanto em indivíduos normais como nos que apresentam diferentes doenças oftalmológicas. Com a capacidade de avaliar in vivo as funções da via visual desde a retina até o córtex visual em doenças como retinose pigmentária e distrofia de cones, os testes eletrofisiológicos visuais também são essenciais para estudar possíveis efeitos tóxicos ao sistema visual provocados por agentes farmacológicos em desenvolvimento. Além disso, eles podem dar avaliação e documentação objetivas da eficácia de vários tratamentos para doenças oculares. Mas sua grande vantagem mesmo é que são objetivos, ou seja, independem da resposta verbal do paciente. Trata-se de técnicas quantitativas que medem o tamanho e a velocidade das respostas do sistema visual em diversos níveis.

Infelizmente, esses testes ainda são de difícil acesso no Brasil. Há poucos serviços de eletrofisiologia visual no país, e a maior parte deles está concentrada nos grandes centros urbanos, em clínicas particulares ou serviços universitários. São exames que requerem investimentos em equipamentos, pessoal especializado e instalações. Os valores pagos pela tabela Sistema Único de Saúde e de Convênios cobrem uma parcela irrisória do custo total. 

A dificuldade de acesso aos exames poderia ser contornada com investimentos tanto dos hospitais públicos terciários como das clínicas privadas que oferecem serviços de alta complexidade em equipamentos e pessoal para a realização de exames eletrofisiológicos. O investimento em pesquisa para que sejam desenvolvidos insumos e equipamentos nacionais, com custo mais baixo, também é um aspecto importante nesse caso.